O Grande Oriente do Brasil

Neste artigo, vamos dar sequência ao texto sobre Preconceito na Maçonaria, onde falamos que isso vem desde época do Brasil Império. Agora, vamos continuar explicando e falando sobre a GOB, Grande Oriente do Brasil.

As duas Obediências maçônicas (o Grande Oriente do Brasil e o Grande Oriente Brasileiro) vinham disputando a posição de legítima sucessora do Grande Oriente Brasílico. Porém, após muitas idas e vindas, o Grande Oriente Brasileiro ou do Passeio acabou sendo extinto em 1861, com a absorção de suas últimas Lojas pelo Grande Oriente do Brasil.

Uma Loja Maçônica no Brasil

Grande Oriente do Brasil

O que deixou a Maçonaria brasileira com apenas uma Obediência no território nacional, como se pode ver na ata a seguir:
"Á Gloria do Grande Architecto do Universo:

Aos vinte e oito dias do terceiro mez do Anno da Verdadeira Luz 58221, achando-se abertos os trabalhos da nossa Officina em o gráo de APrendiz e havendo descido do Oriente o irmão Graccho, Veneravel da Loja Commercio e Artes, única até este dia existente e regular no Rio de Janeiro e que nessa ocasião resumia o povo maçonico reunido para a inauguração e criação de um Grande Oriente Braziliano em toda a plenitude de seus poderes, foi por acclamação nomeado o irmão Graccho, que acaba de Veneravel, para presidente da sessão magna e extraordinaria naquella ocasião convocada para a eleição dos officiais da Grande Loja na conformidade do paragrafo-capitulo da parte Constituição jurada.

Pintura de Michelangelo - Maçonaria
O Grande Arquiteto do Universo na versão imortal de Michelangelo


Tomando assento no meio do quadro em uma mesa para esse fim preparada, na qual estavam o Evangelho, o Compasso, a Esquadria, a Constituição e uma urna, disse o irmão presidente que era mistér nomear um secretario e um escrutinador para a apuração dos votos na presente sessão. E sendo eleito o irmão Magalhães, que servira de primeiro Vigilante e o irmão Aníbal, que servira de segundo, aquelle para secretario e este para escrutinador, fez o Presidente ler os artigos da Constituição respeitantes a eleição e logo depois que o Presidente disse que se passasse a fazer a nomeação do Grão Mestre da Maçonaria brasileira, foi nomeado por acclamação o irmão José Bonifacio de Andrada.

Propos logo o irmão Presidente que se applaudisse tão distintica escolha com a triplica bateria e se despachasse ao novo eleito uma deputação a participar-lhe este successo e rogar-lhe seo comparecimento para prestar juramento de tão alto emprego.

Grão-Mestre do Grande Oriente
Malhete, Gládio e Faixa Maçônica de D. Pedro I, da época em que ele foi aclamado Grão-Mestre do Grande Oriente


Foram nomeados o irmão Diderot e irmão Demetrio, os quais voltaram dizendo o irmão Diderot que o Grão Mestre, por motivos de obrigação a que o chamava o seu emprego civil não podia comparecer, que acceitava o cargo com que a Loja o honrava e o agradecia, que protestava a todo o corpo maçonico brazileiro a mais cordial amizade e todos os serviços que lhe fossem possiveis.

Procedeu-se depois á nomeação do Delegado do Grão Mestre e se bem que a Constituição determinasse que fosse ella feita por votos, o mesmo povo dispensou o artigo fazendo a escolha por accalamação e foi, com effeito, acclamado o irmão Joaquim de Olveira Alvarez. Applaudiu-se a sua eleição e enviou-se-lhe uma deputação composta do irmão Turenne e do irmão Urtubie, a qual de volta participouque se achava na sala dos passos perdidos o irmão Grande Delegado. Saiu uma nova deputação de cinco membros dirigindo-lhe a palavra o irmão Diderot. Foi depois introduzido na Loja por baixo da abobada de aço e estrellada, prestando o seguinte juramente do ritual:

"Eu, F.:, de livre accordo e vontade na presença do Supr.: Arch.: do Universo, que le no meu coração e no de todo o Povo Maçon.: Brasil: aqui representado, juro não revelar o profano algum nem Maç.. deste ou de outro qualquer Or.: a palavra sagrada da Ord.: e a de Passe deste Or.:, assim como todos os segredos que são concernentes ao logar de Gr.: Delegado do Or.: Brasil>:, tanto nesta occasião como em outra qualquer, exceto ao meu futuro successor. 
Outrossim prometo preencher todas as obrigações do meu cargo conformando-me com a Constituição deste Or.: e com os regulamentos da Gr.: Loj.:, de uma maneira que possa promover o aumento e gloria deste Or.: e de todas as LLoj.: do seu circulo, e de empregar todos os meus esforços sempre que forem necessarios a bem de todos os maçons, e de sustentar a causa do Brazil quando compativel for com as minhas faculdades. E se trair e perjurar qualquer destas obrigações de novo me submetto ás penas dos meus ggr.: e ao desprezo e execração publica. Assim Deus me salve!"

Recebeu applausos, dirigiu a palavra a toda a Grande Assembléa e pediu que o dispensassem de assistir por mais tempo, porque deveres igualmente sagrados de seu emprego o chamavam á casa. Sahindo o Grande Delegado, procedeu-se por cedulas nominaes á eleição dos demais Oficiaes da Grande Loja e sahiram com maioria absoluta, para Primeiro Grande Vigilante o irmão Diderot, para Segundo Grande Vigilante o irmão Graccho, para Grande Orador o irmão Kant, para Grande Secretario o irmão Bolivar, Promotor o irmão Turenne, Chanceler o irmão Adamastor.

Independência do Brasil
Sessão do Conselho de Estados às vésperas da independência do Brasil, que reunia alguns maçons como José Clemente Pereira, Gonçalves Ledo e José Bonifácio - os três que estão em pé em primeiro plano, da esquerda para direita


Foram gradualmente applaudidas as suas nomeações e seguiram-se as nomeações dos Veneraveis das tres Lojas Metropolitanas que se devião igualmente erigir e foram eleitos os irmãos Brutus, Anibal e Democrito2.

Applaudiu-se a nomeação e em actosuccessivo prestou o Primeiro Grande Vigilante o juramento nas mãos do presidente e subindo ao trono, o deferiu a todos os outros Officiaes e Veneraveis. Mandando depois aos Officiaes da Gr.. Loj.: tomarem os seus logares, ordenou applausos de agradecimento a todos os OOff.: da preterita Loja Commercio e Artes pelos assiduos desvelos na causa da Maçonaria.

Proposto pelo irmão 1o Gr.: Vig.: para a proxima sessão o sorteamento dos membros e a designação dos Dignitarios das Lojas então criadas, o irmão ex-Orador pedindo a palavra ponderou que podia, pela sorte, ficar algumas das Lojas privada de Ilr.: que, pelo gráo, pudessem ser DDign.:, e portanto propunha que se fizesse o soteio por turmas dos ggr.: existentes, para que cada uma coubesse igual numero de Ilr.: graduados.

GOB - Grande Oriente do Brasil
Cidade de São Paulo em 1824, ano em que foi outorgada a primeira Constituição do Brasil Império


Porem o 1º Vig.: tomando a palavra, mostrou que era mais liberal sortear promiscuamente e deixar a cada uma das LLoj.: a nomeação dos seus DDign.:, para o que poderia ser eleito qualquer Ir.: de qualquer gr.:, dando-se deois o gr.. de Mestr.:, assim como na criação da Gr.. Loj.., sahindo GGr.: DDign>: Ilr.. MMestr.:, ipso facto hão de receber os altos ggr.: . E suposta a moção suficientemente discutida e posta a votos foi approvada a emenda e se decidiu que se procedesse da maneira indicada pelo ir.: 1º Gr.. Vig... Deste modo se deram por terminados os trabalhos desta sessão magna e extraordinaria ficando assim installada a Gr.. Lok.:, ordenando porém o ir: 1º Gr.: Vig.: que eu, Gr.: Secr.: da Gr.. Loj.: lavrasse e exarasse a presente acta, para perpetuo documento neste livro que deverá servir para as das Assembléas Geraes e igualmente da Gr.: Loj.:" (seguem-se as assinaturas)

(Os nomes citados no texto da Ata eram, em grande parte, nomes simbólicos. Dessa forma, Graccho era o capitão João Mendes Vianna, Diderot era o Joaquim Gonçalves Ledo, Kant era o cônego Januário da Cunha Barbosa, Bolivar era o capitão Manoel José Oliveira, Turenne era o coronel Francisco Luís Pereira da Nóbrega, Adamastor era Francisco das Chagas Ribeiro, Brutus era o majos Manoel dos Santos Portugal, Aníbal era o Major Albino dos Santos Pereira e Demócrito era o major-ajudante da Brigada de Marinha Pedro José Costa Barros. Também vale observar que o termo Grande Loja refere-se à Alta Administração do Grande Oriente.)

Pintura de Antônio Parreiras
Julgamento de Frei Caneca, como foi pintado por Antônio Parreiras

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